quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Biografia – Exceção

Zé do Pé, exemplo de força e superação

O nome dele é José Carlos de Oliveira, com 44 anos de idade e 25 de profissão. Você já deve tê-lo visto por aí. Todos os dias das oito e meia da manhã às seis da tarde, ele trabalha em seu cantinho na Avenida Brasil, dividindo sonhos e esperanças com seus clientes.
Zé do pé, como ele é conhecido, já se candidatou duas vezes a vereador. Ele é uma exceção. Ele nasceu com uma deficiência que o impede de movimentar os braços, que são imóveis e jogados ao longo do corpo. Zé conta que sua mãe tomou um remédio para pressão arterial quando estava grávida dele, e esse foi o seu pecado. José Carlos, o terceiro filho de uma família de 7 irmãos é o único que tem o problema, e depende da mãe para as tarefas mais simples como tomar banho e se alimentar. Ele conta que quando está no ambiente do trabalho, os colegas o ajudam a comer. Mais as dificuldades param por aí, Zé, como é chamado por todos, não se lamenta de nada e diz que não se sente diferente de ninguém, “pra mim eu sou igual os outros”, diz ele quando lhe pergunto as dificuldades do dia-a-dia.
A deficiência que ele traz desde o nascimento não o impediu de ganhar a vida, o seu trabalho é um exemplo de superação. Zé faz jogo do bicho em frente a uma lotérica da cidade, e para realizar seu trabalho ele usa os pés. Isso mesmo, a habilidade é tão grande que surpreende a todos. Zé conta que muitos turistas apostam no bicho só para vê-lo escrever com os pés.
Tudo, desde o preenchimento do cartão, o destacamento do canhoto, a mudança dos carbonos de posição, a entrega de resultados aos clientes e até o recebimento e o troco são feitos com os pés.
Como cenário a parede externa de uma casa lotérica, no chão uma pequena mesa sem pernas, simplesmente uma caixa de troco, a mesma que serve para muitas pessoas como apoio para as mãos, para Zé serve como apoio para os pés, e tudo fica disponibilizado em cima deste pedaço de madeira ao alcance dos pés. E assim Zé passa o dia todo, sentado em uma cadeira com um chinelo nos pés sempre esperando o próximo cliente para preencher mais um cartão e demonstrar superação.
Para quem vive reclamando da vida, Zé do Pé é um exemplo de determinação e coragem. Ele diz que se sente um vitorioso, não se sente constrangido e nem discriminado pelas pessoas, pelo contrário afirma que adora trabalhar com o público. E não se sente um deficiente, “os meus pés são mesma coisa que as mãos”.
Embora se sinta muito realizado com sua profissão, o bicheiro, que mora com mãe e diz que ainda não encontrou a pessoa certa, quer ser vereador, e diz que vai se candidatar pela terceira vez no próximo ano, na última vez em que se candidatou Zé fez mil e quatrocentos votos, ele espera pelo menos dois mil votos para poder se candidatar.
O menino que começou a andar com quase oito anos de idade, por falta de equilíbrio no corpo, terminou o segundo grau e espera a vaga de vereador para cursar faculdade e ajudar os deficientes, “quero mostrar que os deficientes também podem fazer muitas coisas, muitas vezes até melhor que pessoas normais”, desabafa ele ao falar do trabalho dele na câmara de vereadores se eleito, e da ajuda que pretende dar a pessoas com necessidades especiais.